segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Antes de comprar um imóvel, é bom analisar as finanças

Especialista aconselha a quem pretende adquirir a casa própria fazer um diagnóstico de sua saúde financeira e ter, como fundo de reserva, até 12 vezes o valor da prestação



"Um passo mal dado pode representar um grande endividamento" - Reinaldo Domingos, terapeuta financeiro e educador


Quem tem a intenção de comprar um imóvel pode se programar para fazê-lo, embora os preços estejam altos. Tudo vai depender de planejamento financeiro para alcançar essa conquista sem abrir mão de outras. Mas é preciso cuidado para que o sonho não acabe virando um pesadelo. Pelo menos é o que aconselha o presidente do Instituto DSOP de Educação Financeira, o educador e terapeuta financeiro Reinaldo Domingos. “Um passo mal dado pode representar um grande endividamento, que comprometerá o futuro financeiro de toda a família”, alerta o educador, também autor dos livros Livre-se das dívidas, Terapia financeira e O menino do dinheiro.

Segundo ele, a hora certa para comprar um imóvel só chega quando a pessoa tem total controle de suas finanças pessoais, podendo direcionar uma parte de sua receita para esse fim. “É preciso controlar os gastos e tomar as rédeas de sua vida financeira”, defende. O primeiro passo é estabelecer qual o valor do sonho que deseja realizar. Só com esse valor em mãos é que realmente se pode iniciar o controle das finanças, determinando o objetivo a ser atingido. A velha mania de guardar as sobras para os sonhos é o maior limitador.

Na avaliação de Reinaldo, o momento não é ideal para comprar. Mas sempre é hora de começar a poupar. “Acredito que há uma bolha da casa própria. Os valores cobrados pelo metro quadrado estão subindo sem parâmetro. Na realidade, principalmente para quem tem um segundo imóvel, o momento é bom para vendê-lo. Se fosse eu, aplicaria esse valor em títulos do tesouro nacional (veja mais em www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro_direto) e esperaria. Quando a retração dos preços vier, compraria outro imóvel. Provavelmente, melhor e mais novo”, pondera. “Há títulos a partir de R$ 200.”

Para Reinaldo, o Brasil está vivendo um momento de farra do crédito. “O marketing fica martelando na cabeça das pessoas para comprar, comprar, comprar. E o crédito fácil diz que pode comprar até sem ter o dinheiro, bastando pegar emprestado. Agora, estamos passando por um grande momento de compras. Daqui a pouco, boa parte começa a se enrolar. Sem ter como arcar com os compromissos, os imóveis vão ser retomados e levados a leilão”, prevê.

Quem não quiser ter esse desgosto precisa, antes mesmo de comprar, fazer um diagnóstico de sua saúde financeira. Discriminar os gastos e detectar onde é possível economizar. A alternativa é anotar cada gasto durante um mês. São vários os exemplos para fazer economia: as famílias que têm dois carros podem deixar um parado na garagem. Caso essa família venda um carro, economizará, se o carro for popular, aproximadamente R$ 500 por mês. E, ainda, evitará desperdícios de energia, água e abusos com telefones.

GASTOS
Além do valor do imóvel, é preciso ter em mente que haverá gastos com escritura, instalações e móveis, entre outros. “Recomendo que a pessoa tenha uma reserva de 12 vezes o valor da prestação. Assim, em qualquer dificuldade, terá tempo para se reestruturar”, ensina.

É importante registrar que nem sempre a melhor opção é trocar o aluguel pela prestação da casa própria. “Muitas vezes é preferível conhecer quanto custaria um financiamento e continuar pagando aluguel, poupando a diferença. Dessa forma, entre nove e 10 anos, a pessoa poderá ter o dinheiro para comprar a casa própria.”


É importante economizar antes de adquirir o imóvel


Essa é uma das formas de fugir do endividamento sem controle, dos juros e das longas prestações, que acabam alterando o valor final do bem

"A pessoa paga cinco anos de prestações e, quando faz uma consulta, ainda deve 90% do valor original. Não recomendo financiamentos superiores a 10 ou 15 anos" - Leopoldo Grajeda, professor de finanças do Ibmec

Preocupado com a falta de educação financeira do brasileiro, o que leva a cenários de consumo desenfreado e risco para as finanças das famílias e para a economia, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira, em dezembro. O objetivo foi criar mecanismos para difundir a educação financeira entre os brasileiros, incluída aí a compra da casa própria.

Reinaldo Domingos, educador financeiro e presidente do Instituto DSOP de Educação Financeira, diz que uma de suas preocupações é o prazo de financiamento. “Com o aumento para 30 anos, gerou-se uma inflação no mercado imobiliário. Os imóveis puderam ser vendidos mais caros, sem afetar o preço da prestação. Em muitos casos, o valor da mensalidade é a única preocupação do brasileiro, relevando o preço final. É uma das características do que chamo de analfabetismo financeiro funcional”, lamenta.

O professor de finanças do Ibmec Leopoldo Grajeda concorda. “Financiar por 30 anos é muito tempo. Nas primeiras prestações, até 90% do valor vai ser para pagar juros. Só uma pequena parte será abatida na dívida. A pessoa paga cinco anos de prestações e, quando faz uma consulta, ainda deve 90% do valor original. Não recomendo financiamentos superiores a 10 ou 15 anos”, revela.

Reinaldo lembra que os juros de financiamento no Brasil ainda são muito altos. Para ter uma ideia, o montante pago em 30 anos de financiamento poderá chegar a três vezes o valor da casa comprada. Poupando para comprar à vista, além de não pagar juros, a pessoa ganhará rendimentos com o dinheiro aplicado e terá condições de pedir descontos quando efetivar a compra.

A prestação ideal deve comprometer no máximo 10% do orçamento familiar. Mas é uma realidade para poucos. No entanto, nunca se deve destinar mais do que 30%. Leopoldo reforça a necessidade de ter uma reserva estratégica para o caso de imprevistos. “Quando colocam as despesas no papel, todos percebem supérfluos e conseguem economizar”, orienta.

Na avaliação do professor, há uma bolha imobiliária no Brasil que deve perdurar até a Copa do Mundo. “O preço do metro quadrado está distorcido. É preciso cuidado ao comprar para não perder o imóvel. A Caixa Econômica Federal já tem mais de 600 mil imóveis retomados”, alerta.

A população brasileira ainda não tem o hábito e a cultura de projetar em seu orçamento essas prestações. É aconselhável que se faça uma simulação em algumas instituições financeiras de crédito habitacional e, conhecendo o valor da prestação, simular o impacto desse valor dentro do orçamento financeiro da família.

ADEQUAÇÃO
Antes de assinar o contrato, deve-se sempre submetê-lo à análise de um advogado. “Um contrato de compra de imóvel tem cerca de 70 páginas. Feito pelo banco, tem todas as cláusulas a favor da instituição. O consumidor precisa ler para adequar e equilibrar o contrato”, pondera Leopoldo. A Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH) presta o serviço gratuitamente.

Quem já está devendo deve recomeçar o processo de planejamento. Anotar todas as despesas e ver onde pode cortar gastos. Com o cálculo e ciente de quanto consegue de sobras no orçamento, procurar o banco para renegociar a dívida